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A biblioteca de Inhaúma

Atualizado: 4 de mar. de 2019

Onde ela começou


A biblioteca de Inhaúma
A biblioteca de Inhaúma

Uma biblioteca nada mais é que uma coleção de livros, ponto pacífico? Nem sempre. Para mim é uma coleção de estórias, de sonhos e de pesadelos, onde as personagens tomam corpo e encarnam em nossas mentes, pedindo passagem para suas odisseias, para suas egotrips.


Começamos a formar a nossa há mais ou menos 40 anos. Minha prima Leila, que teve participação fundamental em minha paixão por filmes, e confesso que também pelos livros; doou-me uma quantidade deles, antes de voltar para Maceió, onde parte de minha família por parte de pai reside. Recordo com emoção alguns que tive o privilégio de poder escolher: Contos do Dalton Trevisan, Uns do Jorge Amado, Fogo Fátuo, do José Lins do Rego, outros do Graciliano Ramos.


Minha mãe e meu irmão Alexandre também me presentavam com alguns exemplares comercializados pelo Círculo do Livro, mesmo nas vacas magérrimas arrumavam um jeito de me incentivar a ler, e por tabela a escrever. Já falei do Grande Sertão: Veredas do Rosa e do Lolita do Nabukov, os dois de capa dura e que tenho até hoje, fora outros menos expressivos.


Daí em diante fui juntando uma graninha aqui, economizando a merenda ali, sempre com um livro em mente para comprar. Na faculdade, nos anos 80, consegui comprar em uma livraria que havia na Letras Corpo, do Drummond, Agrestes, de João Cabral, Malone Morre, do Beckett (esse me furtaram e só consegui adquirir há poucos anos) e fui, por escassez de recursos, obrigado a dar um tempo.


Voltei a adquirir novos e velhos exemplares depois de casar-me com Waléria, sempre lemos algo antes de dormir ou nos finais de semana, bebericando um bom cabernet ou boa gelada.


(...) Que o céu exista, embora meu lugar seja o inferno. Que eu seja ultrajado e aniquilado, mas que num instante, num ser, Tua enorme Biblioteca se justifique. Jorge Luís Borges, A biblioteca de Babel (In Ficções)

Ainda falta bastante para dizer que temos "A" biblioteca, mas temos o básico; vez em quando compramos alguns. Os livros digitais ainda não nos seduziram a ponto de abandonar os de papel, talvez o encanto único de tocar as páginas, folheá-las como únicas, de cheirá-las, ainda que usadas e já amareladas, não tenha para mim como ser substituído. Como alternativa falando de valor, ok, pode ser uma opção para os mais novos, ainda que o argumento de que os jovens não leem como antigamente não cole, tem muita gente nova lendo e produzindo e investindo, minha filha Ariadne é exemplo disso, gasta sempre que pode mais em livros que em vestuário.


Dica de formação de um acervo físico, caso deseje iniciar um, é buscar em sebos, é uma instigante aventura perambular pelos que ainda resistem no centro do Rio, ou entrar no site da estante virtual, pode-se comprar por preços bastante razoáveis algumas edições fora de catálogo. Está com pouca grana? As bibliotecas públicas são outra maneira de iniciar na leitura, compondo a sua biblioteca mental, talvez essa seja a mais importante no balizar dos ponteiros do relógio.


Para perceber a distância que há entre o divino e o humano, basta comparar esses rudes símbolos trêmulos que minha falível mão garatuja na capa de um livro, com as letras orgânicas do interior: pontuais, delicadas, negríssimas, inimitavelmente simétricas. Jorge Luís Borges, A biblioteca de Babel (In Ficções)

Waldir Barbosa Jr.


Imagem: arquivo pessoal

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