A importância da leitura desde sempre
Atualizado: 4 de mar. de 2019
Ler, ler, ler, não vislumbro outro caminho
Meu primeiro livro me caiu nas mãos eu devia ter uns 9 anos. Eram livros que estavam na Igreja onde minha prima Leila, que era assistente social, trabalhava. Ela foi a responsável direta por nossa alfabetização, minha e de meu irmão Alexandre. Estávamos atrasados na leitura e na escrita; meu pai, o mesmo que de forma inconsciente tanto me incentivara a buscar o conhecimento, era meio contrário às normas rígidas do statu quo, não se atendo aos trâmites de escola, etc. Minha mãe, por sua vez, nos idos de 70 era o que chamamos de mulher submissa aos desejos do patriarcado, e ainda que não concordasse com ele, fazia vista nebulosa.
Um ano sob a batuta do rígido mas simpático professor Jorge, um nissei que trabalhava na Marinha, e voilà! Eis dois moleques devidamente deixando de ser iletrados. Os doze trabalhos de Hércules, Reinações de Narizinho, Caçadas de Pedrinho, Monteiro Lobato inteirinho a nossa disposição! Recordo de levar os volumes pesados para ler em casa, com a devida autorização de minha prima Leila, exemplares cujas capas duras traziam um filete dourado na lombada, e me refestelar com eles nos dias sem aula.
Cresci acreditando nos livros, os mais fabulosos, os mais fantasiosos, os bons, os nem tanto, adorava quando os professores davam como dever ler um dos livros da Ática, que lançava um atrás do outro; eram livros simples, brochura, mas tinham uma atraente capinha colorida, algumas ilustrações na abertura dos capítulos e um questionário para testarmos os que havíamos lido. O Caso da Borboleta Atíria, O Escavelho do Diabo (que virou filme nacional em 2014), A Ilha Perdida, foram todos lidos no primeiro grau (hoje fundamental); depois veio a descoberta de José de Alencar (Senhora), Bernardo Guimarães (A Escrava Isaura), Machado em sua fase romântica (Helena, Iaiá Garcia), a paixão já era amor imensurável, não havia mais como desistir dela.
No Cairu, já no segundo grau, eu fui apresentado a Dalton Trevisan (Uma Vela para Dario), Clarice (Mineirinho), Drummond e sua poesia soberba (E agora José?), Cabral de Melo Neto e sua Morte e Vida Severina.
Não larguei mais os livros, nem eles a mim. Passei uma fase lendo 20 por ano, na faculdade conheci Rimbaud, Baudelaire e Rilke e ganhei uma vez um livro de teoria literária que guardo até hoje, fruto de premiação em sala de aula para o melhor poema escrito in loco; era uma versão livre de um poema de Gonçalvez Dias.
Por volta dos vinte e poucos anos diminuí o ritmo, a vida me chamava com toda a urgência e sua força, mas entre vindas e idas, formei uma pequena, porém, vasta biblioteca. Houve um período, quando conheci minha companheira e mãe de nossos dois filhos, Waléria, em que declamava quase todos os dias Drummond e Cabral de Melo Neto para ela, mas isso fica para outro dia.
Waldir Barbosa Jr.
Imagem: acervo gratuito do Wix
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