A língua do homem
Atualizado: 15 de out. de 2020
Poema de abertura do livro Poemas proscritos e nada exemplares, brevemente a ser lançado pelo Clube de Autores
A língua do homem não singra
mares estacionários
(homem e língua caminham
de línguas dadas, como namorados)
A língua do homem não se confunde
espargida pelos cantos tênues
de um retrato (morto o ignaro, vernacula
como se sempre fosse, um gramático)
A língua do homem às vezes se transmuta
em serpente, e ainda que se intente
ela pula e chuta o ideário
: envenena os que pensem ser contrários
A língua do homem não se corta
nem se engasta (na lima é letra morta),
e por mais que se limpe, não se pode
arrancar o gosto de cifra ao umedecer a nota
A língua do homem é maior que o homem
e não cabe em certos lugares
como quer certo tipo de homem
ao aferir entranhas de ave
A língua do homem é de muitos sinais
e é até capaz de nomear a paz
célebre mensageira do diabo
(mas cai de quatro, ao ouvir o sino balançar o rabo)
A língua do homem vai a todo lugar
a uma festa, a revoluções
ossuários, ao território lunar
mas é no ato de calar que seu mot é som
A língua do homem é o silêncio
é o homem quando jaz imerso, sob múltiplas torres
é o que ele guarda de concreto para o cair da noite
quando a morte, se faz diálogo
Waldir Barbosa Jr.
Imagem: colagem de imagens da internet
Obrigado Ana Cristina pelas palavras, você é uma das mais fraternas incentivadoras do que escrevo. Forte abraço e saudações literárias!
... Sem palavras, ou melhor dizendo, sem "língua", Waldir ... Como se dizia antigamente: "Na jugular!" ... sendo assim:
"A língua do homem vai a todo lugar
a uma festa, a revoluções
ossuários, ao território lunar
mas é no ato de calar que seu mot é som" ... Parabéns, amigo!