Ao lado de quem
Atualizado: 23 de jul.
Um texto inédito do primeiro livro de poemas
Ao lado de quem estarei?
Da companheira, dum filho,
quando a dona derradeira
estiver bordando ao acaso
(aguardando com parcimônia
as exéquias, as réplicas
que sobre o morto sempre se faz)?
Ao lado do corpo, quem tocará
a última nota de mpb, um samba-rock,
um xote, uma sílaba sonora
a embalar a efeméride sórdida?
É quando a noite baixa, esfinge
que desafia o entendimento
do que eu fui enquanto sombra
Em quantos palmos eu estendo
a minha iniquidade, a inútil semente
que deixarei para gerações de gentes
que silogizam a luz que percorre
a existência dos silentes, que ao silêncio
fundem sua imagem, na tátil de-
composição que se chamou certa feita?
Por longos anos esse que vos deixa
a preencher papeladas, marcar espaços
que no raso da forma não é nada, a não ser
um tipo de criatura que veio fadada
a se volatizar pelas trincheiras da palavra
onde se travam lutas alma a corpo, uma vã
maneira de digladiar-se e não dizer mais
o que no âmago do cerne, lá no centro do ser
apenas, tão minimamente é um eco, uma voz
que sem potência, se amplifica na pequenez,
vive, come e respira, faz sexo, se corrompe,
para em algum instante declinar do direito
de estar. Ficarão só uma nuvem, uma prece,
um deus ou um orixá, a abençoar o que restará
Waldir Barbosa Jr.
@anfetaminadialetica
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