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Ao lado de quem

Atualizado: 11 de abr. de 2023

Um texto inédito do primeiro livro de poemas

A morte de Marat II (Edvard Munch)

Ao lado de quem estarei, quando me for?

Da companheira, dum filho,

quando a dona derradeira

estiver fazendo bordado

(aguardando com parcimônia

as exéquias, as réplicas

que sobre o morto sempre se faz)?


Ao lado do corpo, quem tocará

a última nota de mpb, um samba-rock,

um xote, uma sílaba sonora

que para muitos só me ignora

quando a tarde vem, vívida e mórbida

esfinge que desafia o entendimento

do que eu fui enquanto sombra?


Em quantos palmos eu estendo

a minha iniquidade, a minha semente

que deixarei para gerações de gentes

que silogizam a luz que percorre

a existência dos silentes, que ao silêncio

fundem sua imagem, na tátil de

composição que se chamou certa feita?


Por longos anos esse que vos deixa

a preencher papeladas, marcar espaços

que no raso da forma não é nada, a não ser

um tipo de criatura que veio fadada

a se volatizar pelas trincheiras da palavra

onde se travam lutas alma a corpo, uma vã

maneira de digladiar-se e não dizer mais


o que no âmago do cerne, lá no centro do ser

apenas, tão minimamente é um eco, uma voz

que sem potência, se amplifica na pequenez,

vive, come e respira, faz sexo, se corrompe,

para em algum instante declinar do direito

de estar. Ficarão só uma nuvem, uma prece,

um deus ou um orixá, a abençoar o que resta


Waldir Barbosa Jr.

@anfetaminadialetica



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