anfetaminadialetica
Ao lado de quem
Atualizado: 11 de abr. de 2023
Um texto inédito do primeiro livro de poemas
Ao lado de quem estarei, quando me for?
Da companheira, dum filho,
quando a dona derradeira
estiver fazendo bordado
(aguardando com parcimônia
as exéquias, as réplicas
que sobre o morto sempre se faz)?
Ao lado do corpo, quem tocará
a última nota de mpb, um samba-rock,
um xote, uma sílaba sonora
que para muitos só me ignora
quando a tarde vem, vívida e mórbida
esfinge que desafia o entendimento
do que eu fui enquanto sombra?
Em quantos palmos eu estendo
a minha iniquidade, a minha semente
que deixarei para gerações de gentes
que silogizam a luz que percorre
a existência dos silentes, que ao silêncio
fundem sua imagem, na tátil de
composição que se chamou certa feita?
Por longos anos esse que vos deixa
a preencher papeladas, marcar espaços
que no raso da forma não é nada, a não ser
um tipo de criatura que veio fadada
a se volatizar pelas trincheiras da palavra
onde se travam lutas alma a corpo, uma vã
maneira de digladiar-se e não dizer mais
o que no âmago do cerne, lá no centro do ser
apenas, tão minimamente é um eco, uma voz
que sem potência, se amplifica na pequenez,
vive, come e respira, faz sexo, se corrompe,
para em algum instante declinar do direito
de estar. Ficarão só uma nuvem, uma prece,
um deus ou um orixá, a abençoar o que resta
Waldir Barbosa Jr.
@anfetaminadialetica