Cabral I
Atualizado: 8 de abr. de 2021
Pelos 21 anos de morte do poeta maior
A João Cabral de Melo Neto
Cabral, arguto desbravador que é
ensaia gestos, elipses, silêncios
que o trem de ferro absorve
enquanto segue seu rumo
meticuloso engenheiro
ergue o poema sem arestas
que a poesia é um bem
não um companheiro
Cabral, corolário de dúvidas
testa a fé em cada sílaba
não tem deus que o decifre
se a palavra é mítica ou muda
seco como todo ermitão
(poucas palavras nunca caducam)
seu estilo é o de limar pedras
stone words que brilham sob a lua
seu discurso de poucas palavras
não é de posse, avesso a palanques
sua linearidade primeva e fecunda
se assemelha a um enterro no mangue
perecendo dentro um vilarejo
deserto, seco como o ermo
da alma que não anima
é vaga no Capiberibe dos rios
Cabral hoje não fala, gesticula
barqueiro do rio, sua prosa é múltiplo
no infinito, ao cubo de deuses e mitos
ele floresce, para o desespero de inimigos
Waldir Barbosa Junior
@anfetaminadialética
Esse poema fará parte do livro Poemas Proscritos e nada exemplares, a ser lançado em dezembro, no Clube de Autores.
Imagem: internet
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