Como nasceu a ideia de escrever o livro
Atualizado: 7 de out. de 2020
Uma breve narrativa do making-off do projeto "Rituais de Perfídia"
O livro que será publicado por esse que vos posta - dia 10 de outubro -, o suspense mitológico Rituais de Perfídia - Crimes em série na Grécia Antiga, começou a ser escrito em 2008. História, mitologia, filosofia e literatura sempre foram paixões que nutri desde moleque. Comecei folheando avidamente a Colorama que meu pai levou para casa, era uma espécie de mostruário daquelas que ele vendia, e eu, danado de curioso, abria as caixas solertemente, sob ameaças de "não mexa aí", e o efeito contrário foi devastador... Não só ia até aonde os volumes estavam guardados, mas um a um ia desbravando aquelas páginas coloridas, cheias de verbetes; não lembro se fui chamado à atenção por meu pai por ter ousado me debruçar sobre aquele tesouro, mas o que posso dizer de forma sincera é que isso levou-me a gostar das letras, do texto, do que eles significavam. Artes, ciências, descobertas espaciais, botânica, biologia, países e seus hábitos e principais características, pintores, escritores, tudo me interessava, e acabei tendo a arte da escrita como um desígnio do qual me aproximei e fugi durante muito tempo.
Filmes foram outro amor que guardei e do qual nunca me desvencilhei. Filme mais ou menos, ruim pacas, trash mesmo, os clássicos, os mais belos e poéticos, todos tem um espaço em meu HD. Dou chance a todos de me encantar, seja por uma boa fotografia, uma harmoniosa - ou nem tanto - trilha sonora, seja pela ausência de som, um roteiro bem costurado, uma sinopse interessante, tudo me atrai. Mas o terror, o suspense, o mistério, esses me levam a um certo êxtase, mesmo que contido. O Iluminado, versão do mestre Kubrick, O Silêncio dos Inocentes, O Bebê de Rosemary e O Exorcista são soberbos, volta e meia volto a assistir a um deles. Todos se basearam em livros de bons a razoáveis, e essa releitura é sempre muito interessante, mostra como roteirista e diretor entenderam as matrizes sobre as quais se debruçaram para realizar suas versões das obras.
O Nome da Rosa, do francês Jean Jaques Annaud, foi o que talvez tenha sofrido menos modificações, guardadas as limitações de minutos que uma película impõe (o livro de Eco tem mais de 500 páginas, o que poderia render um filme de quase 5 horas). Sua história trata de inúmeras questões ligadas ao período medieval, como embates ideológicos das principais correntes do cristianismo - Franciscanos x Beneditinos -, estrutura papal, luta de classes e a Inquisição. Lembro da primeira vez que assisti ao filme, uma sensação de deslumbramento e admiração de como foi adaptado e dirigido, o roteiro cirúrgico, a fotografia belíssima, a trilha sonora contundente, as interpretações magistrais de Sean Connery (William de Baskerville) e F. Murray Abraham (Bernardo Gui), o desempenho correto do futuro canastrão Christian Slater, então com 17 anos, e a beleza da "Rosa" do título, interpretada pela atriz chilena Valentina Vargas - única representante feminina do elenco - ainda são para mim marcantes. Juntem-se a isso vários livros da dama do crime, Agatha Christie, com sua Miss Marple e seu Hercule Poirot, uma ida ao cinema um dia antes de Ariadne nascer, para assistir ao antológico O Silêncio do Inocentes, de Jonathan Demme, cujo roteiro se baseou no ótimo livro de Thomas Harris, e eis que o bichinho literário de Machado de Assis levou-me a pensar em algo que fosse inusitado, porém, nem tanto; foram dois anos pesquisando mitologia grega com devoção olímpica, a internet na época já nos possibilitava - quando conseguíamos nos conectar - acesso a bastante material, e o orfismo meio que me convidou a conhecê-lo através do mito de Orfeu e Eurídice. A lenda do músico trácio que é desafiado a buscar a alma de sua amada no Hades para ressucitá-la na superfície da terra é fascinante! Há uma condição, porém, para o sucesso da empreitada: Orfeu jamais deve olhar para trás, sob pena de nunca mais ver de novo Eurídice. Missão quase cumprida, o poeta, exaurido pelo esforço da subida, dá um vacilo, e antes de tocarem o mundo superior ele se vira para contemplar novamente a face de sua amada, tão saudoso que estava dela; isso é a deixa para que ela seja sugada por toda a eternidade e pereça nos esgotos do inferno. Muitas fontes pesquisadas, cruzamentos históricos feitos à exaustão, livros e livros lidos, fui chegando com o auxílio de Waléria, minha Eurídice, a uma forma que me agradou em boa parte.
Pensei em criar um serial killer na Antiga Grécia, algo de que não tenho notícia, e para investigar os crimes imaginei que deveria ser alguém com capacidade dedutiva, com incrível bagagem cultural e de raciocínio lógico safo, e como admiro o pensamento aristotélico na maior parte das premissas, o filósofo foi para mim uma escolha natural. Descobri que Aristóteles havia estado em Assos, província grega, em busca de uma espécie de período sabático, e que um de seus colegas da Academia de Platão era quem governava a cidade. Juntei então esse e mais alguns fatos "históricos" e fui aos poucos pensando e desenvolvendo a parte ficcional da trama. Escravos sofrendo assassinatos através de ritos pagãos, que pegavam de empréstimo modus operandis dos ritos órficos, cujos seguidores não faziam sacrifícios de animais nem usavam vestes de origem animal (precursores do veganismo?) foram se juntando para tomar corpo e alma, e em pouco tempo já tinha a sinopse do que queria escrever. Faltava escrever!
Dito isso, foram ainda muitos anos de dúvidas, releituras e reescritas, o registro na Fundação Biblioteca Nacional, lançamento virtual na amazon, algo que percebi que não era o que buscava, várias tentativas de publicação via mercado editorial convencional. Conforme ia passando o tempo, a internet foi se tornando mais forte e mais acessível a todos; o livro digital se consolidou, vieram os bloguers, o vlogguers, os booktubers, os influencers literários, toda uma nova e multimidiática estrutura de divulgação e comercialização por poucos imaginada veio à flor do Lácio digital, e cá estamos, realizando uma aspiração justa. Se o livro é bom, não sei, mas propõe algo, sem entrar nos seus méritos ou deméritos, isso ficará para quem ler.
Dia 10 de outubro é o lançamento no Clube de Autores, e cada um que desejar conhecer uma história inusitada sob alguns aspectos, adquirindo um exemplar, está mais que convidado, e deixará esse velho escriba como pinto no luxo...
Nos vemos depois aqui no blog.
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