Entrevista com o autor: Roberto Sander
Atualizado: 4 de mar. de 2019
Roberto Sander, jornalista, escritor e editor, fala sobre seu mais recente livro: 1968 – Quando a terra tremeu
Jornalismo isento - mas com personalidade - e com texto de primeira não é para qualquer um. Roberto Sander, mais um amigo conhecido na rede social, o faz com elegância incomum e propriedade de causa. Com 20 anos de experiência de campo e de redação como repórter e editor esportivo, 11 livros autorais e mais de 70 títulos lançados por sua própria editora, a Maquinária, Sander, pela efeméride dos 50 anos do AI-5, lançou há cerca de nove meses “1968 – Quando a Terra Tremeu”, livro que aborda esse ano tão emblemático de forma diferente, colocando o tempo em perspectiva original, que faz com que o leitor se transporte de maneira quase que literal a esse ano tão intenso na história da humanidade. Eis um pouco do que pensa o escritor sobre seu novo livro e otras cositas más:
1) Sander, recentemente você lançou seu "1968 – Quando a Terra Tremeu", em que medida ele é uma continuação de “1964 – O Verão do Golpe”, tirando o aspecto temporal?
No que diz respeito aos eventos políticos no Brasil (bastante esmiuçados no livro) não deixa de ser uma continuação, pois tudo o que aconteceu no país em 1968 tem ligação direta com 1964. Sobretudo em relação aos rumos da ditadura, que se aprofundou em 68, tornando-se mais truculenta e repressiva na medida em que começou a ser mais contestada nas ruas – a passeata dos Cem Mil é o melhor exemplo disso. A edição do AI-5, em dezembro de 68, mostra essa reação do regime militar de forma inequívoca. Nesse capítulo, destaco a prisão de Carlos Lacerda, que, em protesto ao que considerou uma arbitrariedade, começou uma greve de fome. Logo a interrompeu, quando seu irmão foi visitá-lo na cadeia e o alertou com a seguinte pergunta: “Você que fazer Shakespeare na terra de Dercy Gonçalves?”. Porém, o livro é mais amplo e retrata episódios variados e ocorridos em todo o mundo, tais como o Maio Francês, a Primavera de Praga e a Guerra do Vietnã.
2) Como se deu o processo de pesquisa para o livro? Teve dificuldades com direitos das imagens?
A pesquisa foi bastante tranquila, pois já tenho razoável experiência nesse sentido e sei exatamente onde buscar e usar as informações de que preciso. O fato de a maioria dos acervos dos grandes jornais já estarem digitalizados e disponíveis na internet, ajuda muito, pois se ganha muito tempo não precisando se deslocar até a Biblioteca Nacional ou a outros arquivos públicos. Quanto às imagens, elas foram adquiridas pela editora e não houve dificuldade alguma.
3) Você tem uma formação de mais de 20 anos, como acha que evoluiu a profissão de jornalista, em particular a de repórter?
Na verdade não evoluiu em nada. Aquele velho repórter, com faro da notícia, com a vocação para dar o “furo”, está em extinção. A maior parte dos repórteres de hoje em dia, sobretudo na televisão, onde trabalhei por 16 anos, parecem mais animadores de programa de auditório. Às vezes, dá aquela sensação de constrangimento. O que fizeram da nossa profissão??? Mas sempre existem (ainda bem) honrosas exceções...
4) Quem foram ou são seus influencers na carreira, ao longo do tempo?
Domingos Meirelles, Ruy Castro e Fernando de Moraes. Três grandes repórteres que se transformaram em autores excepcionais. Seus livros foram referências essenciais para o meu aprendizado. Bebi muito dessa fonte, tanto no estilo de texto, quanto no formato de livro. Com Domingos e Ruy, convivi bastante, aprendi muito e tenho hoje ambos como bons amigos, sempre muito disponíveis.
5) Além do ofício da escrita jornalística, algum hobby que pratique ou aprecie?
Gosto de ler, assistir e jogar basquete (NBA), fazer musculação e bater perna por aí com minha cadelinha adotada, a melhor companheira que existe.
6) Vislumbra seus livros virando um documentário?
Vislumbro, sim. Mas é muito difícil de concretizar, pois depende de uma série de fatores que não tenho controle. Não fico pensando nisso.
7) E o próximo livro, já em curso? Há como nos brindar com um velho - e necessário - aperitivo?
Meu próximo livro será sobre “1970”, ano do tri do México. Porém, não é um livro sobre futebol e sim sobre os eventos que ocorreram enquanto o Brasil conquistava o título Mundial. O livro está pronto e deve ser lançado no segundo semestre. O ano já começa quente com o sequestro espetacular de um avião Caravelle, da Cruzeiro do Sul, por militantes da luta armada que o levaram até Cuba com familiares de presos políticos que estavam ameaçados pelo regime. Outro episódio relevante foi o sequestro de um cônsul brasileiro em Montevidéu pelos tupamaros. Foram nada menos que seis meses de cativeiro até ser libertado. São histórias incríveis, muitas delas quase que desconhecidas do grande público, embora tivessem grande impacto na época.
1968 – Quando a Terra Tremeu
Jornalismo
Lançamento: abril de 2018
304 páginas com ilustrações
Editora Vestígio
Imagens cedidas pelo autor
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