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O vazio e o cheio

Um poema para um livro




O copo está cheio, mesmo que de ar.


Essa ausência contém memórias, cheiros, alguns

são pútridos, outros cálidos.


Dentro desse aparente nada flores nascem,

egos inflamam, como se eternos fossem.


Há nele uma doce e tênue imortalidade

que só dura o tempo que lhe cabe.


A morte não se sustenta nas paredes

frágeis do cristal impenetrável,


os piores pensamentos não resistem,

fragmentam-se em nódoa e névoa.


O copo está cheio de lacunas,

vazios, sombras projetadas


na retina do olho de vidro fosco

que insiste a me mirar, assim de soslaio


Waldir Barbosa Jr.

@anfetaminadialetica

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