O silêncio da perversidade
Atualizado: 18 de mar. de 2023
Um poema inédito do livro Poemas Proscritos e nada exemplares, a ser lançado em breve
No meio do furdunço havia um diabo
a revirar os seus olhinhos. No meio
do treme lusco havia um padre
da pá virada, de joelhos, seduzindo
os crentes com sua batina vermelhinha,
se passando por deus e por anticristo
sua unção se dava pelo apertar dos dentes
No fim do dia ele aquietava, em um canto
contando cédulas, e ao tilintar de moedas
ele refazia mentalmente o percurso,
como um cego tateando sem velas ou meninos
recriava o caos, além dos que
nos são caros, unívoco, solidário
àquela luz que nos catapultava
à treva mais precípua, indesejada,
a formadora de nossos dogmas e enigmas.
Sua sagração era um rictos doce, e se fosse
cremoso qual um sorvete
de frutas vermelhas, eu poria
minha mão em seu fogo centrípeto.
Os demônios, os que na treva
espessa de nossos sonhos vivem
são científicos, assertivos e lúdicos.
são satanazes mundanos, um bem comum
às coisas públicas.
O que sabemos de nós, que somos
virgens faunos, etéreas ninfas
de um jardim profano, carcomidos
ad aeternum pela vã perversidade tão mirífica?
Waldir Barbosa Jr.
@anfetaminadialetica
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