Opinião:The Sinner, uma série da Netflix
Atualizado: 6 de mar. de 2019
Crime, culpa e castigo fundem-se e dão um belíssimo caldo audiovisual
Caras e caras, tenho mantido o hábito dominical de assistir a séries, em particular as do canal Netflix. Um tanto avesso ao compromisso de manter-me fiel ao produto, já que a película in solo, por motivos óbvios, não exige o comparecimento assíduo para prestigiá-la, tentei manter-me distante do vício, que tantos dizem adquirir como um vírus que pega, levando-os pontualmente a sentar-se defronte à tv, smart ou tablet para seu compromisso quase que religioso; no caso de The Sinner - A Pecadora, o que poderia ser um martírio torna-se um prazer imenso desde a primeira até à última cena (ou seria ceia?) da primeira temporada.
Encabeçado (e também co-produzido) por Miss Jessica Biel, a série de 8 episódios enxutos e quase perfeitos é um convite a várias reflexões, pertinentes em qualquer tempo, já deveríamos saber disso desde o Concílio de Trento, passando pela Inquisição medieval, pelos Crime e Castigo dostoiesviskianos até a redentora Teologia da Libertação de Frei Leonardo Boff, aportando de forma interessante no novo modus religiosus pregado pelas Igrejas pentecostais, com sua negação de imagens e 10% garantidos nos ajustes finais com Jesus Cristo, não obstante o arsenal audiovisual do qual se utiliza de maneira metódica para arrebatar cada vez mais fiéis. São discutidas de forma nem tão sutil a prepotência e imposição cristãs em face da idade tenra, com seus dogmas inquestionáveis, que volta e meia contrapõem-se a si mesmos, em dialética negação do que suas bandeiras empunham.
A tortura psicológica sofrida pelas personagens de Biel, Cora Tannetti, e de Nadia Alexander (sua irmã Phoebe) é de doer na alma de qualquer cristão, ainda que estejamos de alguma maneira acostumados com tais perversidades. Ao cometer seu crime no início não explicado, Cora vai revelando as mazelas de uma sociedade hipócrita e contaminada por todos os tipos de síndromes e comportamentos, que talvez nem sejam tão estranhos assim; Bil Pulmann, em seu melhor papel até hoje, vive um investigador da polícia de Dorchester, distrito localizado em Boston com cara de interior provinciano, que tem uma relação conturbada com a ex-mulher (com quem tenta uma reconciliação), e penitencia-se pelo fracasso sendo sodomizado, no melhor estilo eu gosto mas detesto isso, no entanto, é o único que acredita que há por detrás do tresloucado assassinato cometido por Cora em meio a um dia feliz na praia uma relação de causa e efeito profunda e justificável, que nem ela mesma sabe qual é.
Jessica Biel nos brinda com sua melhor atuação, uma protagonista que encanta não só pela beleza física, mas por uma densidade muito intensa e convincente. Fotografia, cenografia, direção de arte, trilha sonora, roteiro quase nota 10 são outros pontos altos da série, que é viciante como a oxicodona que surge na trama explicando muita coisa...
Já na segunda temporada - sem Biel, mas ainda sim, excelente -, The Sinner vale cada segundo de sua atenção!
Serie exibida pela Netflix
Gênero: suspense e drama
Produção: USA Network (2017)
Direção: Antônio Campos
Elenco:
Jessica Biel (Cora Tannetti), Bill Pulmann (Harry Ambrose), Christopher Abbot (Mason Tannetti), Nadia Alexander (Phoebe), Don Norwood (Dan Leroy), Enid Graham (Elizabeth Lacey), Jacob Pitts (J. D.) e outros
Nota: 9,5, com louvor
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