Até olhe, mas nem tanto assim
Atualizado: 12 de set. de 2022
Uma resenha de Nope
A experiência imersiva de assistir a Nope (Não! Não olhe!), terceiro filme produzido, roteirizado e dirigido pelo americano Jordan Peele era muito aguardada por nós, Waléria e eu. Assistimos ansiosos para que mantivesse o nível ao menos de Nós, já que esperar que fosse superior a Corra, excelente, seria algo difícil.
Em mais de duas horas de filme o diretor volta ao tema que o marca, a crítica nem tão subliminar ao racismo e ao establishment, com evidente viés ideológico genuíno e contundente, agora com uma crítica ao mass media, produto com o qual ele alimenta sua arte, mas com a devida dose crítica.
Ao abordar uma família tradicional criadora de cavalos usados em espetáculos de um parque temático, cujo pai morre em um estranho incidente, enigmático e vindo dos céus, o diretor parece que vai trilhar um caminho alternativo, em face das já tão batidas invasões alienígenas, mas não é o que vemos. Peele opta por nos colocar diante da necessidade de dois irmãos, vividos por Daniel Kuluya e Keke Palmer (soberbos) de unir-se para tocar os negócios, mas diante de uma situação que tende gradativamente a piorar, a suspeita transformada em certeza que no etéreo não flutuam apenas nuvens, a narrativa nos conduz para um desfecho longe de ser inusitado, com direito a um episódio que mais parece um apêndice solto no filme, mas que tem relação direta com os acontecimentos, e de longe é a parte mais grunge e marcante da obra, que me remeteu a 2001 Uma Odisseia no espaço, de Kubrick, e ao primeirão O Planeta dos Macacos, aquele com Charlton Heston.
O filme tem efeitos sonoros e especiais sensacionais, trilha adequada, magnífica fotografia, montagem a mercê do roteiro - regular então -, ótimo elenco, direção de arte boa, apesar do cenário do parque de "diversões" ser apenas e tão somente ok.
O que faltou? Na boa, condução, e eu estou falando de maneira literal. Peele parece não acreditar em seu próprio roteiro capenga e inverossímil, que força uma barra pesada em diversas partes, principalmente no último terço, ao ponto de se tornar uma experiência previsível e entediante, inclusive em seu desfecho.
O que parecia ser uma coisa vira algo pior, mal desenvolvida e escapista, até boba e piegas em certos momentos. Peele a cada filme faz um caminho inverso ao que iniciou, Corra nota 9,5, Nós 8,0 e agora ficou no mediano, com boas ressalvas.
Torcemos para que no próximo possamos olhar até o fim sem ter que de vez em quando piscar, para não pegar no sono.
Ficha técnica:
Nope
Ano: 2022
Produção americana
Roteiro e Direção: Jordan Peele
Elenco:
Daniel Kuluya
Keke Palmer
Brandon Perea
Nota: 6.0
Waldir Barbosa Junior
@anfetaminadialetica
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