Opinião: O Exterminador do Futuro - O Destino Sombrio
Atualizado: 30 de set. de 2020
O futuro desconhecido se aproxima de nós e pela primeira vez o encaro com alguma esperança. Porque se uma máquina, um exterminador, pode mudar o valor da vida humana, talvez nós possamos também.
Sarah Connor, Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final
Essa icônica frase de fechamento do antológico Terminator 2 - The Judgement Day reboa sempre que penso no futuro cibernético, controlado por máquinas. A Skynet virou Legião, T-800 está mais velho que nunca, Sarah Connor agora tem cabelos branquinhos, mas ainda é uma coroa enxuta (péssimo isso, mas fazer o quê, sou desse tempo...)
O que muda essencialmente em Destino Sombrio é a realocação de ações, a chegada de novos personagens e o debate mais que oportuno nas entrecenas, tocando a querela imigratória méxico-americana; a heroína latina, que se redescobre ainda mais empoderada (no início da película ela é uma espécie de Luís Inácio de saias), encabeça de maneira discreta as cenas centrais do filme. O Terminator interpretado por Mr. Arnold, que volta exterminando e depois se aposenta voluntariamente, tornando-se um pai extremoso e trabalhador, expert em cortinas e envelhecido não se explica how nem because, já que características regenerativas não faziam parte de seu hardware, soa mais como uma piada moderninha e indulgente, reafirmando uma cláusula pétrea (o mr. músculo tem que fazer participação compulsória em todos os episódios da franquia).
A Sarah Connor de Linda Hamilton me lembrou a Laurie Strode de Jamie Lee Curtis em Haloween 2018, aquela velha heroína que nunca morre e está sempre de prontidão, esperta e sarada, pronta para detonar os exoesqueletos ou bichinhos-papões que aparecem do nada. O elenco que mais contracena entre si me soa sempre como de apoio, a soldier Grace, interpretada por Mackenzie Davis, a futura líder da resistência, Daniela Ramos (Natalia Reyes) e Gabriel Luna (Rev-9) deixam claro que estão ali para que Sarah Connor e T-800 tenham seus dejavùs e acerto de contas de maneira a lhes propiciar um eterno lugar ao sol nos clássicos de ficção.
Cenários ok, trilha sonora e fotografias excelentes, efeitos especiais ótimos - exceção feita a um ou outro Morfing/CG, que comparados aos de Terminator 2 parecem até inferiores a esse -, Terminator - Dark Fate sombriamente atira de bazuca no pé ao redesenhar o papel de John Connor na saga, em um movimento de auto-negação que não se explica nem convence os fãs da série. Ao retomar a saga praticamente do ponto em que acaba o segundo filme, os roteiristas ao mesmo tempo quiseram criar uma espécie de fenda temporal reinterpretativa, porém, o futuro reescrito parece desaguar no mesmo leito de rio, fadado a se tornar contaminado tal qual a baía de Guanabara ou as praias do nordeste. O diretor Tim Miller, entre mais acertos que erros, conduz a narrativa de maneira correta, dosando ação, piadas auto-referentes e algum drama, mas sem o mesmo impacto avassalador de James Cameron no segundo filme, para mim o melhor (lembre-se que Cameron co-produziu os dois primeiros e essa recontinuação).
O maior mérito de Destino Sombrio está na tentativa de reoxigenar a franquia após supostas sequencias nem tão felizes - principalmente Genesis - e no empoderamento absoluto dado às protagonistas, seja a líder latina, seja a soldado do futuro, seja a eterna Sarah Connor. Cabe ao elenco e ao público masculino apenas assistir ao show, usando o tempo livre para trocar umas fraldas, lavar e secar os pratos e ficar pronto para ouvi-las contar como foi a tripla jornada ao longo do dia.
Produção americana (2019)
Duração: 128 minutos
Direção: Tim Miller
Roteiro:
Justin Rhodes
Elenco:
Linda Hamilton (Sarah Connor) Arnold Schwarzenegger (Exterminador T-800) Mackenzie Davis (Grace) Gabriel Luna (Exterminador Rev-9) Natalia Reyes (Dani Ramos) Diego Boneta (Miguel Ramos)
Nota: 8,0
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