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Opinião: Us (Nós)

Atualizado: 26 de nov. de 2019

O pior e o melhor de nós...



Us
Us

Não foi algo que chamaria de frustrante, a expectativa é que talvez fosse muito alta após assistir a Corra (Get out) algumas vezes e sempre me deliciar; Us (Nós) é o tipo de filme que irá cumprir um ciclo em nossa alma, antes de afinal decantar e podermos dissertar sobre ele de forma abrangente e com propriedade de causa. O primeiro terço promete e cumpre, a proposta é contrapor a barca dos miseráveis made in america (Somos americanos nunca soou tão eloquente e simbólico do momento em que vivemos) aos walkingrichdeads que pairam sobre a superfície da ostentação em diversos níveis, uma estratificação sócio-econômica que corresponde ao que ocorre em diversos países, mas que nos States soa da forma mais contundente e aterradora, na forma em que a violência por um lugar ao sol é caracterizada pela tentativa de expropriação do bem mais valioso: The life.


A película esgarça o limite quando propõe algo não setorizado, que não só acontece com a família negra de classe média encabeçada por Adelaide Wilson (Lupita Nyong’o, mais uma vez excelente), mas também com a família branca, que tem os sentimentos ainda mais mesquinhos e reprováveis. Ao deparar-se com seus negativos primitivos, cada um acaba tendo reações particulares, mas é na personagem de Lupita, cujo sobrenome é uma significativa homenagem ao protagonista de um conto de terror do escritor inglês Edgard Allan Poe, de nome Wiliam Wilson (no qual um sósia perverso e sussurrante persegue um aluno de um internato até o desfecho não muito diferente do filme), que a coisa toma aspectos gritantemente terroríficos e marcantes, afinal ela foi a primeira que se tem notícia a saber o que a espera.


Em leves pitadelas que fazem referências a sua obra anterior, Jordan Peele continua sendo fiel a seu projeto grandioso de contar em forma de cinema seu tratado sobre a sociedade pós-moderna americana, de forma a nos fazer necessariamente parar para refletir. Ainda que o roteiro falhe aqui e acolá em alguns momentos, a trilha angustiante, a excelente fotografia construída no escuro-escuro, mesmo sob a luz do sol em um dia radiante de praia (onde sombras se projetam conforme os membros da família negra vão ao encontro da família branca muy amiga - que os conhece de outras passagens de verão) e a perfeita ambientação tornam Nós um filme perturbador e instigante, ao mesmo tempo que decepciona como um todo.


A tesoura empunhada pelos clones/sombras é reveladora do desejo de fazer as vezes das moiras na mitologia grega, usada como espécie de instrumento cumpridor da sentença destinada a cada um de nós, nos esvaziarmos no limbo da história. Us representa tudo o que a América tem de bom e de assustador, as possibilidades à vista no horizonte construídas em paralelo ao abismo das depressões as quais todos estão destinados por lá, seja no underground dark, seja nas casas brancas.

 

Produção americana (2019)

Co-produção, roteiro e direção: Jordan Peele

Duração: 116 minutos


Elenco:

Lupita Nyong’o (Adelaide Wilson), Winston Duke (Gabe Wilson), Evan Alex, Shahadi Wright Joseph, Elisabeth Moss, Tim Heidecker, Kara Hayward, Darrel Cherney, Anna Diop, Yahya Abdul-Mateen II, Duke Nicholson

Nota 8, com atenção
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