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Entrevista com a autora: Cristina Serra

Atualizado: 7 de mar. de 2023

A jornalista e repórter de campo Cristina Serra, autora do livro Tragédia em Mariana - A história do maior desastre ambiental do Brasil fala um pouco da carreira e faz um alerta.


Cristina Serra
Cristina Serra

Nossa primeira entrevista com uma autora é de causar orgulho, pois é realizada com a brilhante Cristina Serra, jornalista com mais de 25 anos de experiência na tão desafiadora profissão; seu tempo como repórter de campo, onde as favelas - hoje comunidades - do Rio de Janeiro foram diversas vezes abordadas por ela, em um tempo onde ainda se podia subir os morros com a intermediação das associações de moradores, locais já flagrantemente desassistidos pelo establisment , em um tempo em que os conflitos armados não eram tão escancarados como agora, preparou-lhe o terreno para novos voos. Tendo atuado por mais de 20 anos no conglomerado Globo, com passagens pela Globo News, participação no As Meninas do Jô (quadro do programa de Jô Soares no qual apenas jornalistas mulheres debatiam assuntos) e mais de 5 anos como correspondente internacional, aliado a sua inquietação com os fatos, resultou em 2018 na publicação de um livro que é um relato e um alerta para os governos, independentemente de viés político; Tragédia em Mariana - A história do maior desastre ambiental do Brasil é leitura obrigatória, mas infelizmente não foi feita por quem tinha o dever de preservar o meio ambiente, vide Brumadinho e outras represas prestes a implodir. Ela fala um pouco do livro e de outros fatos inéditos ligados a sua persona:


1) Cristina, seu início na carreira jornalística deu-se no Belém do Pará, o que você destaca desse período como reminiscência?


A primeira vez que trabalhei como repórter foi no jornal Resistência, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH). Isso foi em 1982 e eu ainda era estudante de jornalismo na Universidade Federal do Pará. A experiência no Resistência foi essencial pra mim, me deu a visão humanística e social que eu acho que deve estar na base do jornalismo. Eu diria que o Resistência me deu “régua e compasso”, como diz o Gil, para que eu pudesse traçar o meu caminho.


2) Em que medida você acha que o Rio de janeiro contribuiu com sua formação na área de Humanas?


Eu já trazia essa visão desde Belém, com o trabalho no Resistência, e a aprofundei no Rio porque é uma cidade onde a desigualdade socioeconômica é gritante. Em Belém também é , então, eu diria que houve uma continuidade. Fui repórter de cidade no Rio, então entrei muito em favela, numa época em que ainda era possível entrar com a ajuda das associações de moradores, ia muito aos subúrbios, que é onde estão os verdadeiros problemas da maioria da população. Isso consolidou minha visão de que o jornalismo tem um papel social.


3) Você acha que sua atuação no meio estudantil marcou uma posição mais à esquerda?


Minha atuação no movimento estudantil me ensinou muito sobre o Brasil. Não gosto de rótulos, mas se defender os direitos humanos e a cidadania, se desejar a redução das absurdas desigualdades no Brasil, sejam elas de renda, de gênero, de cor, de região, enfim, se tudo isso for considerado de esquerda, então sou de esquerda. Prefiro apenas dizer que sou uma humanista.


4) Recentemente faleceu Ricardo Boechat, também um jornalista de opinião; você atuou até pouco tempo em um grande conglomerado de mídia, em que medida acha que esse fato pode inibir a atuação de alguém que se posiciona?


Posso falar por mim. Eu atuei durante quatro anos como comentarista do quadro Meninas do Jô, no programa do Jô, ambos na Rede Globo, e sempre me posicionei. Inclusive, em algumas situações, eu ficava claramente em minoria. Mas nunca me senti intimidada. Acho que o jornalista tem que atuar de acordo com suas convicções, caso contrário, é uma fraude.


5) Quem foram seus mais significativos influencers na área do jornalismo?


Dois jornalistas paraenses são fonte de inspiração constante pra mim: Luís Maklouf Carvalho, que considero o melhor repórter em ação no Brasil, e Lúcio Flávio Pinto, pela sua dedicação aos temas da Amazônia. Na TVA minha maior referência é o Caco Barcellos, repórter comprometido com a visão social que mencionei anteriormente. É o mestre dos mestres.


6) Além do jornalismo atuante, o que mais você curte em termos de expressão humana? Algum hobby que até o momento seja desconhecido?


Não é um hobby, mas um trabalho voluntário. Sou colaboradora voluntária da Associação Mico Leão Dourado, no Rio de Janeiro. Faço uma assessoria de imprensa pra eles, escrevo textos, divulgo o trabalho deles e agora estou fazendo um documentário sobre o extraordinário trabalho deles de preservação dessa espécie única, que só existe no Brasil e só interior do Rio de Janeiro, na região de Casimiro de Abreu, Silva Jardim e Rio Bonito.


7) Seu primeiro livro Tragédia em Mariana – A história do maior desastre ambiental do Brasil é uma espécie de antecipação da tragédia anunciada de Brumadinho e de outras possíveis continuações; o que acha que faltou para que se evitasse as duas primeiras, isso tem partido ou ideologia a seu ver?


Acho que nada tem a ver com partido ou ideologia. Tem a ver com a maneira como as coisas são feitas no Brasil desde sempre, que é o conluio entre o poder público e os grandes conglomerados econômicos. O poder público finge que fiscaliza e a empresa faz o que bem entende. É simples assim. Aconteceu em Mariana, com a Samarco. Aconteceu em Brumadinho, com a Vale. E temo que ainda possa acontecer novamente, se as coisas não mudarem.


8) Você já pensa ou está em processo criativo de um novo livro? O que poderia nos antecipar, algum – e necessário - aperitivo?


Tenho um projeto em andamento, mas prefiro esperar que se consolide para anunciá-lo. A única coisa que posso adiantar é que se trata de algo completamente diferente do livro sobre a tragédia em Mariana.


Tragédia em Mariana
Tragédia em Mariana
  • Tragédia em Mariana - A história do maior desastre ambiental do Brasil

  • Autora: Cristina Serra

  • Editora Record

  • 462 páginas



















 

Imagem da autora: cedida gentilmente

Imagem do livro: internet

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