Kubrick: 20 anos de morte

Atualizado: 7 de jan. de 2022

O cineasta americano, que faria 90 anos hoje, permanece como um dos mais importantes de todos os tempos

O primeiro filme de Stanley Kubrick (1909 - 1999) ao qual assisti foi o terror psicológico O Iluminado (The Shinning), ainda na gloriosa era do VHS. Lembro que morávamos em uma casa em Inhaúma, logo abaixo da antiga Automóvel Clube; era noite alta, esperamos que as crianças fossem dormir antes de encarar aquele que considero o maior filme de terror de todos os tempos. Estávamos embalados, ainda que amedrontados, com a atmosfera claustrofóbica da película (a começar pelo take inicial, feito de helicóptero, acompanhando a personagem de Jack Nickolson - também de nome Jack, soberbo - subindo de carro ao lado pelas encostas em direção ao Hotel Overlook, localizado nas Rochosas). A fotografia impressiona logo de cara, assim como a música de abertura, Music for Strings, Percussion and Celesta (Movement III), de Bela Bartók, conduzida pelo maestro Herbert Von Karajan. Ao entrar com a câmera pelo hall do megahotel, de pé direito enorme, vamos nos encolhendo, tragados pelas sequencias geniais que o cineasta nos propõe observar.

Ao aceitar um bico de alimentador de caldeira da fornalha do Overlook, ante o fechamento temporário provocado pelo inverno glacial que castiga a região do Colorado todos os anos, Jack pretende aproveitar o tempo relativamente ocioso para se libertar de um bloqueio intelectual severo para concluir um livro que está escrevendo; acompanhado da mulher Wendy (Shelley Duvall) e do filho para lá de gracioso Danny (Danny Loyd), um menino com a capacidade de ver pessoas mortas e que tem como melhor amigo um personagem talvez imaginário, ao passar do tempo Jack vai ladeira abaixo em direção a algo sem volta e deveras perturbador.

Mais não conto. A ideia aqui é falar de Kubrick e de minha paixão pelo seu modo de expor as ideias e enquadrar a câmera. Minucioso e profissional ao extremo, fez apenas 16 filmes, mas todos tem sua marca e sua chancela de obra-prima; destaco dos que vi o libelo nem tão silencioso contra a guerra Nascido para matar (Full Metal Jacket), o arquetípico e emblemático Laranja Mecânica (ClockWork Orange) e De Olhos bem Fechados (Wide Eyes Shut), um drama com pitadas de suspense impressionante, onde fidelio é mais que uma palavra latina e o nome da única ópera escrita por Beethoven.

Fiquei de ver Barry Lindon, Lolita e 2001: Uma Odisseia no Espaço ainda nesse ano (esse um clássico que não poderei desencarnar sem assistir).

A busca eterna pelo impossível na arte, sua fidelidade a si mesmo, e sua humanidade além de seu tempo são para mim seu grande legado, algo incomum para a maioria dos mortais de hoje.

Ave Stanley Kubrick!